Dioguinho, o infame assassino do interior de São Paulo

Dioguinho, o Infame Assassino  do Interior de São Paulo


Diogo da Rocha Figueira, mais conhecido como Dioguinho, é uma figura cuja existência se estendeu entre os anos de 1862 e 1918, deixando um legado marcante que reverberou profundamente na memória coletiva das comunidades rurais de São Paulo. 

Sua história é fortemente associada à cidade de Botucatu, onde nasceu, passou sua infância e adolescência, e deu início a uma série de atos criminosos que o consagrariam como um personagem notório em todo o território brasileiro.

Embora tenha exercido a profissão de agrimensor e também desempenhado o papel de oficial de justiça, foi sua trajetória criminosa que o eternizou nos anais da história. Seu nome ficou associado a uma série de crimes hediondos cometidos no interior da então Província, no final do século XIX, período em que a sociedade estava passando por profundas transformações.

Dioguinho nasceu em Botucatu, no dia 9 de outubro de 1863, passou a infância e a adolescência na casa onde nasceu, na Rua Riachuelo, e sua vida alcançou um trágico desfecho em 1 de maio de 1897.

O criminoso carregava uma herança familiar notável. Seu pai, o respeitado coronel Figueira, era um proeminente comerciante na Vila de São Domingos. Sua mãe, além de costureira habilidosa, era também reconhecida como uma benzedeira de renome na comunidade. Essa influência familiar deixou marcas indeléveis em sua jornada.

Casa onde nasceu o bandido Dioguinho em Botucatu



Como estudante da Escola Botucatuense, administrada pelo Colégio Mackenzie de São Paulo, na confluência entre as ruas Amando de Barros e Leônidas da Silva Cardoso, era um conhecido defensor dos mais fracos. Uma fase marcada por deliquencia e brigas.

Aos 15 anos de idade, Dioguinho ingressou em uma carreira ligada à engenharia e à topografia, trabalhando ao lado de engenheiros e mestres agrimensores envolvidos em projetos para a Estrada de Ferro Sorocabana (EFS). Marcando o início de sua aprendizagem na profissão de agrimensor e seu crescimento na sociedade.

Casa do bandido Dioguinho em Botucatu



Primeiros crimes e a tragédia Inicial


O primeiro registro de um ato criminoso associado a Dioguinho data de quando ele completou 20 anos e residia em Tatuí com sua esposa e seu irmão mais novo, Joãozinho. Nesse dia fatídico, ao chegar em casa após um dia de trabalho, Dioguinho encontrou Joãozinho chorando e, preocupado, questionou-o sobre o motivo de sua tristeza. 

O jovem Joãozinho relatou que havia sido maltratado pelo gerente de um circo local, que o agredira com um tapa no rosto.

Movido pelo desejo de defender a honra de seu irmão e buscar justiça, Dioguinho confrontou o gerente do circo, levando Joãozinho consigo. O confronto resultou em uma discussão acalorada que culminou em um trágico desfecho, marcando o primeiro assassinato atribuído a Dioguinho.

Sua vida era pontuada por mortes que, muitas vezes, assumiram contornos curiosos e inusitados. Suas vítimas incluíam amigos, desconhecidos e até mesmo professores. 

Um episódio notável ocorreu durante uma caçada, quando Dioguinho e um amigo disputaram a autoria de um tiro que abateu uma perdiz, resultando em um assassinato chocante.

Outro incidente bizarro aconteceu quando ele testou sua nova espingarda disparando-a contra um homem que carregava um cesto de compras. Sem motivo aparente, ele tirou a vida de um inocente menino de 10 anos que presenciou o ato brutal.


A saga de Dioguinho: o bandido notório do interior de São Paulo

Caso Coronel Cirino e o assassinato planejado


Um dos relatos mais sinistros envolvendo Dioguinho refere-se a um coronel chamado Cirino, da cidade de Tietê. O coronel tinha grandes planos para sua filha, desejando que ela se casasse com um jovem de uma família próspera da Alta Mogiana. No entanto, a filha do coronel se apaixonou pelo seu professor de Francês, o que levou o coronel a recorrer a Dioguinho para eliminar o professor.

Dioguinho armou um encontro fatal com o professor na casa do coronel, oferecendo-lhe uma escolha perturbadora de como morrer. Esse episódio sombrio marcou mais uma página na sangrenta história de Dioguinho.

Dioguinho assassino


Dioguinho e o crime que abalou Altinópolis: a emboscada fatal a José Venâncio


Em 26 de março de 1895, as estradas empoeiradas de Mato Grosso de Batatais, hoje Altinópolis, São Paulo, tornaram-se palco de um dos eventos mais trágicos e notórios da história do interior paulista. José Venâncio de Azevedo Leal, um homem de múltiplos papéis na sociedade da época, teve seu destino cruelmente selado em uma emboscada planejada pelo temido Dioguinho.

José Venâncio, nascido por volta de 1840 na cidade de Passos, Minas Gerais, era uma figura proeminente em sua comunidade. Ele desempenhava importantes funções como capitão da Guarda Nacional, fazendeiro e sub-delegado de polícia nas cidades de São Simão e Altinópolis, ambas situadas na região de Ribeirão Preto, São Paulo. 

Além de suas responsabilidades públicas, possuía propriedades, incluindo uma fazenda em São Simão, de onde possivelmente se mudou em torno de 1890/93, buscando escapar da ameaça da febre amarela. A fazenda "Liberdade" em Altinópolis também estava sob sua propriedade, e há indícios de que ele fosse sócio da Companhia Melhoramentos, concorrente da Companhia Mogiana na época.

O fatídico episódio que tirou a vida de José Venâncio aconteceu quando ele retornava a cavalo de um batizado na cidade de Batatais, São Paulo. Na companhia de seu consogro, João Batista de Souza Maia, ambos foram surpreendidos por disparos de armas de fogo efetuados por Dioguinho e seus cúmplices.

O registro oficial do óbito de José Venâncio de Azevedo Leal, datado de 27 de março de 1895, na Certidão de Óbito da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Matto Grosso (Batataes), atesta que ele foi vítima de um tiro. 

Deixou para trás sua esposa, D. Maria Ignocencia de Jesus, e oito filhos, sem deixar testamento. O documento foi assinado pelo vigário Luiz G. Mochi.

Enfim, Dioguinho foi um assassino muito conhecido também na região de São Simão, Cravinhos e Ribeirão Preto no final do século XIX.

A notoriedade do bandido Dioguinho espalhou-se por todo o estado de São Paulo, até que, em 1897, o delegado de polícia da capital, Dr. Antônio de Godoy, deslocou-se até a região de Cravinhos e São Simão para capturá-lo.

Segundo relatos, os criminosos se escondiam nas margens do rio Mogi Guaçu, onde os policiais organizaram uma emboscada. Ao cair da tarde, dispararam contra o irmão de Dioguinho e contra o próprio Diogo. Entretanto, apenas o corpo do irmão do criminoso foi encontrado, deixando o  famoso bandido desaparecido, alimentando diversas lendas.

Dioguinho conquistou fama em Cravinhos, e uma das lendas mais conhecidas envolve o Morro do Diogo.

Este morro é uma formação arenítica, possivelmente esculpida pela ação da água fluvial. Localizado em Cravinhos, em uma estrada de terra próxima à rodovia José Fregonese, a aproximadamente 12 km da cidade. O Morro do Diogo se destaca com seus 564 metros de altitude no topo. As coordenadas exatas são: Latitude 21º24' e 31''S, Longitude 47º 05' e 73'.

De acordo com a lenda, Dioguinho se refugiava nesse morro, que serviu como seu esconderijo mesmo após ser dado como morto. Acredita-se que uma gruta exista no morro, embora não confirmada. 

O maior perigo ao subir são as serpentes, comuns na região. No topo, é possível observar algumas árvores e uma cruz de madeira, marcando o intrigante local que perpetua a memória do bandido Dioguinho.

Nos livros e nas telas: o fascínio por um bandido notório


Diogo da Rocha Figueira, mais conhecido como Dioguinho, é uma figura que, aqpesar mais de um séulo de sua morte, continua a capturar a imaginação do público por meio de livros e filmes que retratam sua vida tumultuada e seus crimes chocantes. Essas obras oferecem uma visão fascinante de um dos personagens mais notórios da história criminal brasileira.

Página impressa: livros sobre o criminoso


A história de Dioguinho tem sido tema de diversos livros ao longo dos anos, cada um trazendo sua própria perspectiva sobre esse bandido lendário. Um dos primeiros registros literários data de 1903, quando Antonio de Godoi Moreira e Costa, então 4º Delegado de Polícia da capital, publicou "Dioguinho, narrativa de um cúmplice em dialecto." O livro, relata os eventos de 1897, ano em que Dioguinho foi capturado, e apresenta uma visão única dos crimes e circunstâncias que cercaram sua vida.

Outro contribuinte importante foi João Amoroso Netto, Delegado de Polícia de São Paulo, que escreveu uma série de artigos sobre Dioguinho publicados no "Diário da Noite" em 1949. Netto baseou sua narrativa nas informações obtidas em processos judiciais arquivados em diferentes comarcas de São Paulo, bem como em entrevistas e na tradição oral de pessoas idôneas. Seu trabalho culminou no livro "Dioguinho: História completa e verídica do famoso bandido paulista."

Em 18 de agosto de 2000, o memorialista Moacir Bernardo, lançou nas dependências do Centro cultural de Botucatu, no dia 18 de agosto, o livro "A Vida Bandida de Dioguinho", 

Uma análise mais recente e intrigante da vida de Dioguinho é encontrada no livro "Dioguinho, o matador de punhos de renda," escrito por João Garcia Duarte Neto em 2003. O autor buscou resgatar a autenticidade da linguagem caipira do final do século XIX e também sugeriu a possibilidade de que Dioguinho fosse homossexual, embora essa alegação não tenha sido substanciada por evidências sólidas.


A Magia do Cinema: filmes sobre dioguinho


A fama de Dioguinho transcendeu até mesmo o cinema, com várias adaptações cinematográficas de sua vida. A primeira incursão cinematográfica aconteceu em 1917, com o lançamento do filme ambientado na região de Araraquara, onde o Tenente Galinha liderou uma perseguição feroz a Dioguinho. 

Produzido pela Paulista Filmes e dirigido por Guelfo Andaló, esse filme marcou a estreia do bandido notório nas telas.

Em 1990, os jornalistas João Garcia, autor do romance "Dioguinho, o Matador de Punhos de Renda," e Rosana Zaidan, apresentaram ao público um documentário que desvendava a vida do infame Diogo da Rocha Figueira, conhecido como Dioguinho. 

O documentário foi transmitido pela TV Ribeirão, afiliada da Rede Globo na época, e revelou detalhes minuciosos sobre a vida do bandido que começou como agrimensor em Botucatu e se tornou o criminoso mais famoso do noroeste paulista.

Um dos momentos memoráveis do documentário foi a participação do repentista Francisco Ferreira, também conhecido como Chico Louco, natural de Santa Rosa do Viterbo. Com sua viola caipira, Chico Louco descreveu de forma magistral a vida de Dioguinho em apenas cinco estrofes.  

A gravação amadora capturou Chico Louco entoando a canção "Dioguinho," sem acompanhamento, em uma esquina, proporcionando uma rara e autêntica visão da cultura e história da região.

Quarenta anos após essa primeira incursão, o ator Hélio Souto interpretou novamente o papel de Dioguinho em um filme colorido, mantendo viva a memória desse criminoso infame.

Vale a pena mencionar que em 2016, foi lançada uma terceira versão cinematográfica da história de Dioguinho, com uma nova perspectiva adicionando mais uma camada à complexa história de Dioguinho, mantendo o interesse pelo personagem vivo.

"Dioguinho - O Terror de Toda uma Região" retrata a vida e os crimes de Dioguinho, interpretado por Odair Martins, em um contexto histórico que marca o fim do Segundo Reinado e a transição para a República, embora esses eventos não sejam mencionados diretamente. 

O filme foi produzido sem fins comerciais pela parceria entre a TVE e o Grupo de Cinema de Brodowski. Apesar de contar com atores não profissionais, o filme transmite com sucesso sua narrativa e autenticidade, sendo exibido em cineclubes, universidades e países de língua portuguesa. Recebeu o prêmio de Melhor Filme no 1.º Festival de Cinema de Brodowski em 2009.

A história de Dioguinho transcendeu gerações e mídias. Livros, revistas, jornais, filmes e seriados de televisão perpetuaram sua infame fama ao longo das décadas. Até mesmo o cinema mudo contou a história desse bandido notório.

Um Personagem Enigmático


Dioguinho continua sendo uma figura enigmática na história criminal brasileira, representando uma era marcada por personagens singulares e eventos extraordinários. Sua saga é um testemunho sombrio de uma época passada que ainda ecoa nos anais da história.

Assim, a história do assassinato de José Venâncio de Azevedo Leal e a vida de Dioguinho continuam a fascinar e intrigar, relembrando tempos tumultuosos e personagens notáveis que moldaram o Velho Oeste brasileiro.

Bandido Dioguinho o criminoso enigmatico



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