Acidente aéreo de 1938 em Laranjal Paulista deixou São Paulo em luto

A cidade de Laranjal Paulista acompanhou o drama do piloto que buscava por uma área de pouso mas acabou caindo próximo à vicinal

Um acidente aéreo em Laranjal Paulista, parou as atividades da cidade no dia 1º de outubro de 1938. Um avião modelo  Fairchild F24 cruzava o céu nublado e desafiava o mal tempo em arriscadas manobras e rasantes até cair, nos altos da cidade.

Era por volta das 10h10 quando a população assistiu do chão o desespero do piloto que buscava local de pouso, indo e vindo até a cidade de Conchas.

Relatos e documentações da época apontam que, a aeronave deu rasantes sobre a antiga Estação da Rede Ferroviária Federal (onde hoje está a praça Praça Armando Salles de Oliveira - próxima ao prédio onde hoje é a prefeitura do município) para identificar o nome da cidade.  Demonstrando que estavam fora de sua rota.

A queda na Serra de Pirambóia, região que hoje é próxima à vicinal Vereador Giovani Costa, aconteceu enquanto o aviador buscava a pista de pouso de um aeroclube que operava na região.

Porém, antes de atingir o objetivo, uma pane geral derrubou a aeronave. A queda, segundo a imprensa foi vertical e de uma altura aproximada de 200 metros.

O acidente ocorreu logo após o avião desenvolver uma manobra fechada, a testemunhas da ocasião contam que o avião perdeu velocidade e despencou sobre uma casa vazia, pegando fogo na sequência.

A presença da aeronave nos céus da cidade foi percebida por aproximadamente 10 minutos. Por volta das 10h20 a notícia do acidente aéreo nos altos da cidade levou praticamente todos os laranjalenses ao local da queda.

Um cruzeiro pelos mortos


No local do acidente foi construído um cruzeiro em homenagem às vítimas do acidente aéreo.
Com o passar dos anos o local foi esquecido e hoje o monumento repousa quebrado às margens da rodovia em área particular e localização de difícil acesso.

Um loteamento deverá tomar conta daquela área em breve e um tratamento especial ao monumento será executado.


Mortos eram funcionários do gabinete do Governo Estadual


Tenente Adolpho Padilha
morreu no acidente
Certamente a população se mobilizou nos primeiros socorros. Porém não havia muito o que fazer, o cenário era perturbador. Ninguém fazia ideia de quem estava a bordo da aeronave e quando chegaram ao local da queda encontraram três corpos ainda no interior do aparelho.

Uma das vítimas estava irreconhecível, mas percebia-se que se tratava de um militar devido ao uniforme branco.

A identificação dos outros dois corpos ocorreu com a chegada do prefeito da cidade Oscar Vieira Sampaio, o delegado Deodato Amaral e o médico Newton Olyntho de Arruda que reconheceram o piloto Arnaldo Alves Motta e o presidente da Vasp (Viação Aérea São Paulo), Paulo de Faria.

Um terceiro corpo foi encontrado há cerca de 60 metros do local da queda, era o Dr. Cussy de Almeida Júnior, Auxiliar de gabinete do governador (interventor) do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. Provavelmente, Cussy foi arremessado para fora da aeronave momentos antes do impacto.

Rapidamente as equipes de resgate levaram os corpos para a Prefeitura Municipal de Laranjal Paulista, acionando o delegado regional de Sorocaba e o médico legista da mesma cidade para acompanharem o desenrolar do incidente.

Acidente comove imprensa e governo


Paulo de faria era presidente da VASP

A notícia da queda envolvendo uma das três aeronaves da comitiva do governador (Interventor) do Estado, Adhemar de Barros, matando o empresário Paulo de Faria, tenente Adolpho Padilha, da Casa Militar e o Dr. Cussy de Almeida Júnior, Auxiliar de gabinete de Barros e o proprietário do avião, engenheiro Arnaldo Motta, rapidamente repercutiu nos meios de comunicação do Estado de São Paulo.

No dia seguinte ao acidente, o jornal Correio Paulistano, trazia a manchete "Foi de Luto,para São Paulo o dia de hontem", e dedicou grande parte de sua capa e parte da segunda página,  para tratar do acidente.

O governador determinou imediatamente o deslocamento do oficial de gabinete, Costa Neves Júnior, o assessor e homem de confiança Mário Beni, além do tenente Armando Salles, para Laranjal.

A missão do grupo era acompanhar os familiares das vítimas e tratar detalhes do translado dos corpos para São Paulo.

Adhemar de Barros disponibilizou um trem especial apenas conduzir os ataúdes, até a cidade de São Paulo. Era final da tarde quando a locomotiva chegou na estação da pequena cidade do interior. Toda a população local estava presente para acompanhar a partida do carro especial com os corpos das autoridades estaduais.
Da estação os ataúdes foram transportados até o Palácio dos Campos Elyseos, na Capital Paulista. O velório ocorreu no salão nobre da Secretaria da Interventoria, de onde saíram os cortejos fúnebres.
Jornais periódicos de todo o País deram ampla cobertura ao acidente aéreo em Laranjal Paulista

O que o acidente e a Matriz de São João Batista têm em comum?


Segundo o livro 100-anos-Paróquia de São João Batista - Laranjal Paulista 1900-2000, em 1941 dois altares foram consagrados na igreja matriz de São João Batista em Laranjal.
No dia 28 de setembro foi consagrado o altar de nossa senhora da paz, oferecido por dona Heloisa A. L. Motta em memória do seu marido Dr. Arnaldo Motta. 


O engenheiro Arnaldo Motta, foi uma das três vítimas do acidente aéreo. Ele era o piloto da aeronave número 3, e caiu no município de Laranjal Paulista no final da década de 1930. Após se desviar da rota pré-estabelecida.


A aeronave pertencia à comitiva do então interventor do Estado de São Paulo Adhemar de Barros.


Ademar de Barros era um amante da aviação e ficou conhecido como o primeiro governador a usar o transporte aéreo como forma de locomoção pelas cidades administradas pelo Governo.


A velocidade garantida pelos aviões, garantia ao político vantagem na divulgação de seu nome e presença  garantida em inaugurações de obras e eventos de importância política.

A manhã fatídica e a ironia do destino


Na manhã do acidente coube ao tenente Adolpho Padilha dividir a comitiva do interventor Ademar de Barros em três aviões. Ele selecionou os lugares de cada um nos aviões e acabou ocupando um dos lugares da terceira aeronave.

O Dr. Cussy de Almeida Júnior, não gostava de aviões e havia combinado com Mário Beni, uma troca de lugares de última hora.


Porém pouco antes de decolar, o governador decidiu conferir a comitiva, foi nos aviões e percebeu que Beni ocupava o lugar de Cussy. 


Barros não perdeu a oportunidade para repreender o amigo pessoal.
- Deixe de ser cagão e volte para seu lugar - Disse ao Dr. Cussy

O acidente também foi citado no livro “Adhemar: Fé em Deus e pé na tábua” de  Amilton Lovato.

Comunicado oficial sobre o acidente publicado no jornal Correio Paulistano


Comunicado oficial de ontem (data do acidente) dia anterior ao jornal da Secretaria da Interventoria Federal, o seguinte comunicado:


"Hoje, por volta das 8,45 horas, um avião particular, de propriedade do engenheiro Arnaldo Motta e por ele pilotado, que acompanhava a comitiva do sr. dr. Adhemar de Barros, interventor Federal no Estado, em sua excursão a Lins e rio Preto, sofreu uma 'panne' quando sobrevoava a cidade de Laranjal, precipitando-se ao solo, da altura de 200 metros.


No referido aparelho, viajavam também os srs. dr. Paulo de faria, presidente da Vasp; tenente Aodlpho Padilha, ajudante de ordens o sr. Interventor; e dr. Cussy de Almeida Júnior Auxiliar de gabinete. Todos os tripulantes pereceram no desastre.

Ao ter conhecimento da lamentável ocorrência, o sr. cap. Armando figueiredo de3 oliveira, secretário da Interventoria e chefe de Gabinete, providenciou imediatamente para que fossem transladados os corpos das vítimas para esta Capital, tendo enviado para Laranjal, afim de acompanhar os féretros os srs. Neves Júnior e Mário Beni, da casa civil da Interventoria e tenente Armando Salles da casa militar.Ao mesmo tempo transmitiu às famílias enlutadas o desejo do governo de fazer os funerais às expensas do Estado.

O trem especial que conduz os ataúdes, deverá chegar a São Paulo, hoje às 21h30 horas, na Estação da Sorocabana.

Da estação os corpos serão transportados para o Palácio dos Campos Elyseos, ficando depositados no salão nobre da Secretaria da Interventoria, à Alameda do Rio Branco, 371, onde foi armada a Câmara Ardente e de onde sairão os funerais.
A história de fundação da Pedreira de Laranjal Paulista sem dúvida remonta a década de 30, porém existem poucos registros públicos sobre seu funcionamento ou criação.

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