Acolher sentimentos na escola: do discurso à prática

Acolher sentimentos na escola: do discurso à prática

Desde o início da pandemia, é necessária uma atenção especial sobre a importância de acolher sentimentos na escola saindo do discurso e indo à prática, isso não apenas no que diz respeito aos alunos, mas também dos professores e funcionários, que também vivem o turbilhão de emoções e acontecimentos desde o fechamento das escolas em março do ano passado.

Enquanto na educação infantil o contato físico desempenha papel importante no relacionamento das professoras e crianças, conforme os alunos vão crescendo surgem novas estratégias para possibilitar que sintam-se acolhidos no ambiente escolar. Todo esse processo está relacionado à educação socioemocional.

Se às vezes pode parecer difícil acompanhar o surgimento de tantas tendências educacionais, o trabalho com o socioemocional envolve, entre outros pontos, a compreensão das emoções. Rafaela Paiva Costa, historiadora, doutora em educação e consultora pedagógica do LIV (Laboratório Inteligência de Vida), explica que os sentimentos fazem parte da vida e acontecem a todo momento e em todos os lugares, sendo impossível dissociar a pessoa de suas emoções.

“A forma como sentimos influencia a maneira como nos comunicamos e nos relacionamos com os outros e com a gente mesmo. É por isso que, no LIV, costumamos dizer que não existem sentimentos bons ou ruins. Eles comunicam e informam algo que está acontecendo, seja ao nosso redor ou internamente em cada um de nós”, defende.

O papel das experiências de vida e da educação socioemocional

Então se todos têm sentimentos, por que nem todos lidam bem com eles? É aí que entram as experiências de vida e a educação socioemocional. Rafaela explica que, desde o nascimento, todas as experiências contribuem para o aprendizado das emoções, como a convivência em família, na escola, no parque, no clube, com as crianças do bairro ou do prédio.

“As relações permitem que observemos como os outros reagem aos sentimentos. Assim, vamos experimentando situações em que vamos construindo essa forma particular e própria de lidar com as nossas emoções. Entretanto, nem sempre essas são as melhores maneiras de reagir diante de determinada situação”, defende a consultora.

É por isso que ela reforça a importância de acolher todos os sentimentos, ou seja, reconhecer o que está sentindo e nomear a emoção. Esses passos constituem a base do processo de aprender a lidar melhor com os sentimentos, que, por sua vez, é o passo inicial para o desenvolvimento socioemocional, que terá impacto não apenas individual, mas coletivo. “A partir do momento que aprendemos a lidar melhor com nossas emoções, também passaremos a lidar melhor com as emoções dos outros, o que vai nos ajudar a nos comunicar e relacionar melhor, além de promover bem-estar para nós mesmos e para aqueles que nos cercam.”

Esses efeitos serão sentidos não apenas no relacionamento dos alunos com os colegas na escola, mas também com os professores, com irmãos e com a família, uma vez que os sentimentos acompanham e acontecem a todo momento e lugar.

Existe espaço para os sentimentos na escola?

Se diferentes gerações forem consultadas sobre a questão acima, haverá uma diversidade de respostas. Escolas mais conteudistas, por exemplo, dão mais ênfase a ciclos que consistem em aprender conteúdo, fazer uma prova e passar adiante para novos aprendizados. Rafaela explica que o modelo da escola conversa com a forma sobre a qual ela foi construída ao longo do tempo, em uma lógica e modelo cultural que enfatiza a dimensão cognitivo racional dos indivíduos.

Entretanto, inúmeros estudos em campos como neurociência, psicologia e na própria educação mostram que tem havido uma série de transformações dentro e fora das instituições de ensino. “A escola começou a mudar e a tentar promover uma formação não restrita à dimensão cognitivo racional, mas que compreendesse o indivíduo em sua integralidade. É daí que vem a educação integral, que considera as várias dimensões dos indivíduos, inclusive subjetivas.”

Todo esse processo é útil em diferentes ocasiões da vida, sobretudo no momento atual, no qual a convivência dentro de casa durante a quarentena e distanciamento social pode exaltar os ânimos. Nesse sentido, conhecer os próprios sentimentos e se colocar em uma posição de escuta ativa do outro pode ajudar a atravessar esse período.

Além disso, Rafaela afirma que praticar educação socioemocional na escola abre um espaço de diálogo que, em muitos casos, é o único espaço que crianças e adolescentes podem ter para expressar seus pensamentos e emoções.

A entrevista com Rafaela Paiva Costa pode ser acessada na íntegra neste link.

Por Vinícius de Oliveira - Agência Porvir 

Comentários

Postagens mais visitadas

Lagoa Gigante em Formato de Homem em Iacanga é classificada como bizarrice do Google Maps pela imprensa internacional

Dioguinho, o infame assassino do interior de São Paulo

Símbolo da Paz ou a marca do Diabo?

Gêmeas siamesas mostram superação e felicidade: conheça a história de Yara e Yasmin Santos

Pedreira de Laranjal Paulista: área antes degradada agora é uma das maravilhas da região

Betty Adreasson, a mulher que foi abduzida por um OVNi triangular em Massachusetts

Travis Walton, o lenhador que foi abduzido e ficou cinco dias com alienígenas

Conheça o serial killer José Paz Bezerra, ou melhor, o Monstro do Morumbi

A história incrível por trás das Tartarugas Ninjas: da paródia à fenômeno cultural

Cabo Bruno: o justiceiro do Jabaquara que exterminava tatuados e criminosos da periferia de São Paulo