Botucatu declarou guerra contra a Inglaterra? Será?


Virou  folclore! A provinciana Botucatu teria declarado guerra ao império Britânico. Essa versão  tem-se tornado tão disseminada que vale a pena retornar ao ocorrido.  As razões para isso talvez estejam no desconhecimento dos antecedentes históricos.

No século 19 (XIX) mais especificamente no ano de 1863, uma tumultuada sessão na Câmara Municipal de Botucatu resultou no documento 53, destinado ao Imperador Pedro II. 

Nesse documento os parlamentares demonstraram toda a indignação contra a Inglaterra, mas especificamente ao embaixador britânico,  William Dougal Christie.

Agora fica a pergunta. O que de tão grave fez esse embaixador para levantar tanta fúria dos Parlamentares botucatuenses?  E mais, o documento obteve resposta por parte do imperador que agradeceu à manifestação de apoio.

O que tem de pitoresco nessa história é que dita a lenda que o documento 53 era na verdade uma declaração de Guerra Contra a Inglaterra e, de acordo com o, os parlamentares consideravam que a cidade havia ganhado a guerra já que o adversário abandonou o jogo. É isso mesmo pessoal, Botucatu venceu por W.O. 

De acordo com o historiador João Carlos Figueiroa em versão publicada no site Ybytucatu, as relações do embaixador com o império brasileiro se complicaram por conta de navios ingleses que estavam patrulhando as águas do Atlântico reprimindo o comércio de escravos da África para o Brasil.

Confira no vídeo


Para quem não sabe Grã-Bretanha foi a maior traficantes de escravos da História, porém  começou a combater esse tipo de comércio com o desejo de ampliar seu mercado consumidor.

Para isso foi publicada a lei Bill Aberdeen, que vetava o tráfico de escravos entre África e América. Autorizando ainda a marinha britânica a tomar navios brasileiro que tivessem carga de escravos. Isso no ano de 1845.

Para evitar conflitos com a Grã-Bretanha, o Brasil aprovou a Lei Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico de escravos.

A população, que na época era em sua maior parte escravagista não gostou nenhum pouco dessas leis e passou a olhar marinheiros ingleses com maus olhos. Os atritos se extremaram quando no dia 7 de junho de 1861, o navio britânico Prince of Walles encalhou na praia de Albardão, no Rio Grande do Sul. A carga foi saqueada e toda a tripulação encontrada morta na praia. 

Como forma de repreender os ingleses o império, através da Polícia do Rio de Janeiro, acabou prendendo oficiais ingleses embriagados, que se negaram a se identificar às autoridades, isso no dia 17 de junho de 1862. Esses incidentes acabaram culminando num malo estar diplomático conhecido como “Questão Christie”.

Christie, que tinha fama de esquentadinho e um tanto quanto ignorante, ficou possesso e gritou aos quatro ventos em tom de protesto que exigia retratação das autoridades imperiais brasileiras, exigindo indenização no caso do naufrágio. Porém o império brasileiro respondeu que não tinha responsabilidades alguma sobre o caso.  

É lógico que para tomar essa atitude o embaixador estava amparado e instruído por seu governo, ele não seria idiota de peitar o imperador sem aprovação do governo Inglês.

Foi no dia 5 de dezembro do mesmo ano que o embaixador deu seu ultimato ao governo brasileiro, ele fez ameaças e prometeu retaliações concretas, voltando a pedir imediata indenização, punição dos policiais e censura ao chefe da polícia. 

Foi então que o imperador decidiu mostrar quem manda e afirmou ao diplomata irritadinho: “Prefiro perder a coroa. Não vou me humilhar ao estrangeiro”, e  de imediato exigiu que o ministro, Marquês de Abranches que deixasse o embaixador de lado e fosse conversar diretamente com o governo inglês. O ministro deixou Christie de canto, no chiqueirinho, digamos assim. 

Olha só que atrevimento, o ministro inglês no Brasil ameaçou enviar a esquadra naval britânica para a costa brasileira, e fez isso no dia 31 de dezembro a flotilha inglesa zarpou para o alto mar e apreendeu os primeiros 5 vapores de navegação costeira encontrado no caminho.

Foi então que o bicho pegou e a população brasileira, mais especificamente os moradores do Rio de Janeiro mostrou que o “Filho seu não foge à luta”, como diz o hino e foi para as ruas em violentas manifestações mostrando total indignação com o governo inglês.

Botucatu estava na boca do sertão paulista e demorou bastante tempo até que os primeiros jornais chegassem do Rio para a cidade. Além disso os mascates e viajantes levavam semanas e em alguns casos meses para chegar à terra dos bons ares, carteiros também levavam um bom período para atravessar o estado com notícias mais acalouradas.

Por incrível que pareça a população de Botucatu se sentiu representada pelos cariocas e também foram às ruas em massa e com entusiasmo acima do comum, exigindo  posicionamento do legislativo, mas, como lembra o historiador da terra dos bons ares os parlamentares eram todos agricultores e o acesso à cidade não era tão fácil quanto é hoje, afinal moramos numa Cuesta de terrenos irregulares.

E por esse conjunto de acontecimento retardatários a manifestação legislativa levou dois meses para ser redigida pelos parlamentares, é isso ocorreu no dia 9 de fevereiro, em uma sessão lotada e tumultuosa onde, motivados pelo anseio popular, os vereadores redigiram o documento de apoio ao povo brasileiro e de indignação com a postura adotada pela Inglaterra. 


Mas afinal de contas o que diz esse documento?

 
“ Senhor – A Camara Municipal da Villa de Botucatu, fiel interprete dos sentimentos de seo Município, soube neste certão da Província de São Paulo, com a mais profunda magoa e indignação a cruel e injusta agressão, que os nosso fóros de Nação livre e independente dirigio o governo Inglez, já aprisionando em plena paz os nossos Navios Mercante, e já por meio das Notas do seo Ministro Plenipotenciário na Capital do Império.
 
Porém Senhor, á tão duro e justo sentimento succedeo a de gratidão para com A Sagrada Pessoa D’Vossa Magestade Imperial, Nosso Deffensor Perpetuo, por ver esta Camara a Dellicadeza e Firmesa de Vossa Magestade em sustentar os nosso fóros, como fez no Conselho Déstado. 

E foi no meio da ansiedade geral que desprehendendo-se do coração Magnanimo e Brasileiro de Vossa Magestade húa corrente elletrica inflamou o Conselho D’Éstado passou ao Governo do Paiz, e delle ao bom povo fluminense e a todos os povos do Brasil. 

Sim, Senhor, Vossa Magestade Forte com o appoio da Nação, e a Nação tão bem forte, em quanto tiver a dita que lhe outorgou a Divina Providência de possuir á Vossa Magestade como seo Deffensor Perpetuo, há de repellir toda a injusta agressão do extrangeiro audaz e ambicioso, e o seo Imperio Será sempre um soberano e independente.
 
Ah Senhor, sob o Governo Auspicioso de Vossa Magestade Imperial dos Brasileiros se mostrarão sempre os descendentes e successores dos Vieiras, Camarões, e dos Henriques Dias, e mal dicto seja o Brasileiro que não ouvir a vós da Patria, que he a voz de Vossa Magestade Imperial.
 
Taes Senhor, são os sentimentos desta Camara, e tambem os do Povo de Botucatu, que ella se ufana representar e depor aos pés do Trono Augusto de Vossa Magestade Deos fellicita e prospere os dias de Vossa Magestade Imperial, como havemos de mister. 

Paço da Camara Municipal da Villa de Botucatu, em sessão extraordinaria de 9 de fevereiro de 1863. A) Antonio Galvão Severino – presidente, e vereadores Salvador Bueno dos Santos Mello, Bernardino Dutra Pereira, José Francisco Corrêa da Silva, Brás Bernardo da Cunha, Caitano Ferreira Godinho, Antonio Pedro Ribeiro e Manoel Joaquim Bueno-secretário.”

No texto percebe-se que não existe nenhuma declaração de guerra, mas sim uma manifestação de apoio, mas cabe a reflexão, e se estourasse um conflito mais sério? Como agiria os botucatuenses daquela época?


Depois de ter chegado até aqui, você ainda acha que Botucatu declarou guerra à Inglaterra? Deixe a sua opinião aí embaixo nos comentários.






Comentários

  1. Botucatu desde 1863 já era foda ksksksks

    eu acho que Botucatu n quis declarar guerra, mas deixou a entender q sim

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