Arthur era um funcionário público da pequena cidade Laranjal Paulista, sua função era de extrema responsabilidade mas ainda assim tinha um certo tempo livre para ler e analisar bons livros e indicar aos amigos, com observações brilhantes.
Simples e inteligente Arthur decidiu que construiria sua própria casa e queria um forte alicerce de pedras. Porém, para ter esse alicerce ele percorria um longo caminho entre a sua construção e a pedreira da cidade.
Ao longo desse caminho entre sua casa e a construção, a construção e a pedreira (onde ele ia religiosamente empurrando uma carriola de pedreiro, cheia muito cheia) não havia cores, era apenas o cinza da cidade e o marrom da terra lisa e pronta receber as casas em um loteamento recém aberto.
O que me aproximou do Arthur foi um amigo em comum Daniel Leandro de Oliveira, e a literatura, Daniel me disse de um homem que gostava muito de ler e que fazia críticas e observações importantes nas margens de seus livros.
Fiquei interessado em conhecer essa pessoa de hábitos tão similares aos meus e perguntei a Daniel como encontrar o tal intelectual.
Daniel me respondeu. "Siga as flores".
Questionei, como assim?
E ele me deu as coordenadas que segui fielmente. No final de semana, com Daniel, fomos até o ponto indicado, seguindo as flores até a construção, que tinha como decoração um balaustre na parede, como se tivesse sido esculpido no local, e uma velha e medieval bomba de água em frente.
Assim conheci Arthur, e ele me passou muita coisa boa, indicou livros excelente, mas a curiosidade me atormentava, e após mais de meses de amizade perguntei a ele. Porque seu caminho é repleto de flores?
Ele me respondeu: - Por opção!
A curiosidade aumentou ainda mais: Como assim?
Arthur descobriu que a única maneira de mudar seu caminho é trilhando ele querendo mudança, então plantava as flores.
Meu último contato com Arthur foi no início dos anos 90, quando lhe demos de presente um livro "Decamerão", ele agradeceu e eu voltei para minha cidade natal: Botucatu.
Ainda sinto falta de amigos como o Arthur, o homem que muda seu caminho enquanto caminha sobre ele, ao invés de reclamar da trilha cinza ou do peso da carriola decidiu deixá-lo colorido e florido.
Renato Fernandes
Homenagem a um grande e inesquecível amigo, baseado em fatos reais com quase nenhuma ficção.
Comentários
Postar um comentário